sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Duas teorias

A teoria que diz que se houver biodiversidade sufciente, as pragas não chegam a ser prejudiciais confirma-se plenamente.

no páteo
no terreno
No nosso páteo, onde precisamente não há muita biodiversidade (o páteo é relativamente pequeno e relativamente isolado do ambiente), temos imensos problemas com pragas. O manjericão está todo comido por lagartas, o tomateiro perde as folhas por causa duma doença que não identifiquei, as couves-flores estão a ser comidas por lesmas, e assim por diante.

No terreno, exactamente as mesmas espécies estão saudáveis. As diversas populações de bichos controlam-se reciprocamente e não chegam a prejudicar as plantas. Não estou a dizer que nunca aparecem pragas. Aparecem, mas não chegam a ter aquele desenvolvimento explosivo e acabam por desaparecer antes de provocar muitos estragos, ou então ficam por níveis baixos de incidência e os prejuízos são mínimos.

O exemplo das lesmas é o mais notável. Nunca vi no terreno uma só lesma. Quanto a caracóis, só muito raramente encontramos. Como se explica isso, quando outros terrenos à volta da aldeia estão completamente infestados por caracóis, e no nosso páteo as lesmas fazem estragos todas as noites ? Encontrei a resposta em Maio passado, quando os pirilampos ofereciam um espectáculo nocturno deslumbrante (pena que não se vejam nas fotos). Estudei a biologia dos pirilampos e descobri (graças à wikipédia) coisas interessantísimas. Os pirilampos são indicadores da saúde dum ecosistema e da poluição luminosa. Mas o mais estranho é que a sua ementa inclui lesmas e caracóis. Está assim explicada a falta destes moluscos no nosso terreno. A propósito, já não vemos pirilampos à noite, provavelmente o seu ciclo de vida já terminou este ano. Esperamos revê-los na próxima primavera.

Os pirilampos usam os sinais luminosos como uma linguagem nupcial. Por isso, a iluminação artificial é-lhes altamente prejudicial, para não falar do uso de pesticidas e de herbicidas. A propósito da importância duma noite escura, sem luzes artificiais, vale a pena ver este artigo no Público.

O que não se confirmou foram as nossas expectativas iniciais de podermos fazer agricultura sem regar. A proximidade dum riacho fortaleceu essa nossa esperança, bem como a abundância de canas e de silvas, que indicam humidade subterrânea. Mas quando o calor chegou, em Junho, as plantas começaram a morrer aos poucos. Regámos a mão durante quase um mês, com muito esforço nosso e com a ajuda do princípio dos vasos comunicantes (ver a foto do Cristian publicada em 18 de Junho). Mesmo assim, as plantas ressentiam-se, e por isso comprámos uma bomba a gasolina para extrair água do poço, e estendemos alguns tubos e fitas para rega gota-a-gota. Não é uma solução muito sustentável, mas por enquanto teve que ser. No futuro talvez consigamos instalar uma bomba movida a vento ou a energia solar, juntamente com um depósito elevado. A moral da história : em Portugal, no verão, é preciso regar, mesmo a 20 metros do leito do riacho. Claro que a cobertura de palha ajuda, sem ela seria precisa muito mais água. Nas camas cobertas de palha, a humidade mantém-se durante mais tempo.


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