domingo, 15 de fevereiro de 2015

Luz na música

Na semana passada fui a um concerto de música sinfónica (Sinfonia 9 de Mahler). Nos últimos anos já tinha observado que a música sinfónica já não me toca muito; tive agora a oportunidade de confirmar. Observo a beleza desta música, mas já não me comove, passa-me ao lado.
Esta falta de sensibilidade poderá estar relacionada com a minha evolução espiritual, em particular com a prática da meditação. Quando ouço música sinfónica, tenho a sensação que o compositor e os músicos que o interpretam estão à procura da Luz num sítio onde não há Luz, ou há muito pouca. Os outros espectadores também se incluem aqui, provavelmente.
Uma comparação vem-me à cabeça. Tenho a sensação de estar a observar uns trabalhadores que se esforçam imenso para apanhar fios infinimos de ouro que a água dum rio traz. É um trabalho esgotante para, no fim do dia, voltarem para a casa com um dedal cheio de pó de outro. Por outro lado, eu conheço, um pouco mais acima, uma mina onde pedaços enormes de ouro puro estão ao alcançe da mão. A abundância é tanta e os pedaços são tão grandes que nem sinto a necessidade de os levar para a casa. É daí, aliás, que a água do rio traz em permanência os fios infimos.
O mais bizarro é que, se eu tentar contar aos trabalhadores sobre a mina, a maior parte deles não acreditaria. Dir-me-íam "Deixa-nos em paz com as tuas fantasias. Não temos tempo a perder, quanto mais trabalharmos, mais ouro apanhamos."
A diferença entre o ouro e a Luz de que estou a falar é que a Luz pode ser, para muitas pessoas, difícil de ver. Sobretudo, intangível. Por isso, não faz sentido censurar as pessoas por não acreditarem (já estive desse lado e sei como é). Mas entristece-me.


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