sexta-feira, 29 de maio de 2015

Introdução

Neste blogue, Anca-Maria e Cristian partilham as suas experiências de permacultura no terreno gentilmente cedido por Hermínio ... mas não só.

Tudo começou em Abril 2012 quando tirámos um curso de introdução à permacultura, com a Biovilla, e, quase em simultâneo, conhecemos o Hermínio que generosamente nos cedeu o uso duma faixa de terreno, num vale a 5km da nossa casa (algures entre Santarém e Rio Maior), para aplicarmos os conhecimentos recentemente adquiridos. Desde então temos publicado aqui notícias sobre as nossas (perma)culturas, abordando igualmente outros assuntos como a eficiência energética, assuntos filosóficos ou espirituais, eventos astronómicos ou mesmo assuntos de natureza mais pessoal.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Crítica às camas elevadas

Há quem diga que a permacultura em camas elevadas não é rentável. A minha experiência aponta também um pouco nesta direcção.
A cama é um montinho de terra. Como é normal, uma elevação seca primeiro, antes do solo subjacente, por um lado porque a água desce com a gravidade pelos poros da terra, por outro lado porque a elevação apanha com mais vento do que o terreno. Claro que a palha diminui um pouco este problema, ajudando a manter a humidade mais um pouco. Mas não me parece suficiente. É sempre necessário regar bastante. Acrescento o pormenor que a água da rega escorre muitas vezes da cama abaixo
E a palha representa um problema em si. Primeiro, a palha custa dinheiro (nem todas as pessoas têm a sorte que nós temos em receber a palha de graça). Depois, custa esforço transportá-la e colocá-la nas camas. O vento espalha-a, temos que pô-la de volta. Também dificulta um pouco o acto de semear.
Resumindo, começo a pensar que, no verão, as camas elevadas não compesam muito. No inverno sim, acho que valem a pena. Mas no verão talvez devamos pensar em procurar a solução oposta, rebaixar o solo em vez de subí-lo. Ver esta mensagem.

sábado, 2 de maio de 2015

Agricultura sem rega ?

Os antigos egípcios praticavam uma agricultura em sintonia com a natureza, em particular com o ritmo de vida do rio Nilo. O Nilo inunda todos os anos as suas margens, e todos os anos os egípcios esperavam pela retirada das suas águas para semear no lodo. No resto do ano, não tinham o que fazer e o único passa-tempo era participar em concursos do tipo "quem constrói a pirâmide mais alta".

Metade do nosso terreno fica numa várzea (aliás, o terreno acaba mesmo no riacho). Nessa zona, a humidade subterrânea fica, no verão, a cerca de meio-metro de profundidade. No inverno, qualquer rego ou buraco fica completamente cheio de água (quando não é o terreno todo).

regueira inundada
Num artigo mais antigo, exprimia a minha frustração por termos que regar, apesar de a água estar tão perto. Ainda não desisti de tentar fazer agricultura sem rega. A ideia é abrir sulcos (tipo regueiras) no fundo dos quais haverá humidade, mesmo no verão. E semear lá.

cavando

cavando ainda

semeando
permacultor feliz

Isso dá muito trabalho !
Dá algum trabalho no início. Se soubermos escolher bem a altura quando a terra tem a consistência certa, cavar não é tão difícil. Em contrapartida, depois de semear não há mais trabalho a fazer : nem regar, nem mondar, nem cobrir com palha. Só na próxima primavera intenciono entrar outra vez na regueira, para cavar mais um bocado e semear novamente.

Isto vai funcionar ?
Pois, é isso que eu também quero ver. Dentro de dois ou três meses poderei dar uma resposta. Comigo, prognósticos - só mesmo depois de o jogo acabar.

Como circulamos na regueria ?
Não é possível andar dentro, não há espaço, pisaríamos as plantas. Precisamente por isso digo que não intenciono mondar. A partir de agora, o único trabalho será (espero eu) colher os legumes.

Como apanhar os legumes se não podemos entrar na regueira ?
As plantas, quando muito pequenas ainda, vão ter sombra devido às paredes da regueira (que está orientada este-oeste e tem a margem sul mais alta). Ao crescerem, as plantas vão procurar a luz e vão subir. Os legumes serão colhidos de fora, sem entrar na regueira.

Então não podemos cultivar assim qualquer planta ?
Não. Só podem ser cultivadas assim plantas que sobem e cujos frutos ficam bem acima do solo, para os podermos apanhar sem entrarmos na regueira. Ficam excluídas, por exemplo, batatas, cenouras, cebolas e afins. Mesmo as alfaces não convêm. O que se dá bem (espero eu) numa regueira assim são tomates, pimentos, pepinos, milho, feijão, abóbora, melancia.

Só plantas anuais ?
Só plantas anuais. No inverno, a regueira vai ficar inundada e todas as plantas vão morrer. É uma questão de semear novamente (ou plantar plantículas) na primavera, quando as águas voltarem a descer.

Acrescentado em Outurbo 2015 : A ideia não funcionou. No verão, o fundo do rego secou completamente e as plantas não se desenvolveram. Talvez tenha que cavar mais fundo ? Por outro lado, também é verdade que este ano foi mais seco do que o costume.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Lixo orgânico

Experimentei "reciclar" os lixos orgânicos de duas maneiras. Nesta mensagem, contei como enterrávamos os lixos directamente. Numa mensagem mais recente, relatei a construção dum compostor. Eis uma comparação entre os dois métodos.

Enterrar o lixo orgânico significa o seguinte. Escolho um sítio para uma futura cama elevada (ou uma cama já existente, mas que pretendo elevar mais). Vou deitando o lixo no sítio, por cima das ervas existentes. Após alguns meses, quando achar que já chega, cubro o sítio com terra e depois com palha, como habitualmente.

Quanto á compostagem, o meu compostor é em plástico e não toca na terra (está suspenso). Isto facilita a extração do composto final, mas por outro lado impede a circulação da fauna entre o solo e o composto. O processo de degradação das matérias orgânicas envolve vários bichos (bactérias, fungos, minhocas, insectos). É uma fauna específica, alguns desses seres não se encontram no solo "normal". Como o meu compostor não comunica com o solo, tenho que assegurar-me que possui a fauna necessária. Quando inaugurei o compostor, enchi-o de matéria orgânica que já tinha estado em contacto com o solo durante alguns meses, por isso já devia trazer bastantes bichos. Para além disso, sempre quando encontro uma minhoca, ponho-a no compostor. Mesmo assim, segundo percebi, as minhocas que fazem a compostagem eficazmente não são aquelas que eu encontro no solo "normal", são uma espécie de minhocas mais finas. Vou pedir a alguém que me traga algumas, ou então comprarei. Em contraste, enterrar o lixo não requer nenhum cuidado com a fauna, uma vez que esse lixo fica em contacto com o solo e os bichos circulam livremente.

Quando fazemos compostagem, tem que haver um equilíbrio entre materia verde e restos de comida, por um lado, e madeira e folhas secas, por outro lado. Os primeiros são ricos em azoto, os segundos não, pelo contrário, a sua decomposição consome azoto. Para além disso, só podemos pôr ramos de arvores até à grossura dum dedo, e cortados em pedaços pequenos. Portanto, os ramos maiores guardo-os para os enterrar nas camas. Em contraste, enterrar o lixo não requer este género de cuidados. Ponho lá (quase) qualquer lixo, uma vez que irá ficar enterrado nos próximos anos.

Mas, precisamente por isso, uma cama feita assim não fica logo produtiva. No início, com os lixos ainda não degradados, o ambiente no interior da cama não é muito propício às plantas. Até poderá ser prejudicial às raízes, pois a fauna que consome os lixos poderá também atacar as raízes. Só passados alguns bons meses, ou mesmo um ano, é que o lixo transformar-se-á em estrume e a cama ficará mais produtiva. Em contraste, o que tiramos do compostor é estrume pronto a ser usado.

Dá algum trabalho retirar o estrume do compostor e levá-lo para onde queremos cultivar as nossas plantas. Em contraste, uma cama já não dá trabalho nenhum depois de feita, fica lá à espera de ser usada.

Notas sobre os lixos "aceitáveis" :

  • Claro que estão excluídos plástico, metal, vidro. 
  • Papel podemos compostar, mas com algum cuidado. O papel das revistas, por exemplo, ou qualquer papel brilhante, não deve ser usado, pois contém muitos aditivos (tintas, resinas). Mesmo a tinta dos jornais pode chegar a ser prejudicial se houver muita quantidade. No compostor, só ponho algum guardanapo esporadicamente. Nas camas podemos enterrar papel normal e cartolinas. 
  • As cascas de citrinos são um problema, pois contêm substâncias anti-sépticas e prejudicam a fauna. Ponho no compostor só depois de usado, por exemplo, na cozinha, ou no banho, juntamente com sais. Nas camas o problema não é tão grave.
  • As cinzas podem ser usadas na compostagem, mas em pouca quantidade e bem espalhadas. As cinzas são muito alcalinas e, em concentração elevada, prejudicam seriamente os seres vivos. Se não souber o que fazer às cinzas, espalhe nos carreiros ou em qualquer sítio onde não quer plantas a crescer. 
  • A carne é de evitar no compostor, pois não se degrada suficientemente rápido. O composto é suposto estar pronto após 4-6 meses, e a carne poderá não ficar degradada neste tempo. O mesmo se aplica às fezes. Depois de 4-6 meses, as fezes ainda não ficam suficientemente degradadas e não queremos manipular composto com fezes (podem ainda conter muitos agentes patogénicos). Tanto a carne como as fezes podem ser enterradas nas camas sem problemas, sobretudo se não intencionamos remexer aquele solo nos próximos dois ou três anos. Não convém, por exemplo, para camas destinadas ao cultivo de batatas ou cebolas ou cenouras.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Construção dum compostor


Os nossos amigos Lurdes e Quim-Zé ofereceram-nos ...

um barril em plástico azul.
Deve ter contido algum dos muitos venenos usados na agricultura química :


O primeiro passo foi cortar-lhe o fundo, com uma serra eléctrica pica-pau.


Depois, lavámo-lo muito bem. Depois, cortámos uma abertura em baixo, por onde será retirado o estrume.

Metade dum balde de plástico segurará o estrume.

O fundo será usado como tampa, mas para isso tivemos que alargar uma parte e estreitar a outra

com o maçarico
ou dando pequenos cortes

ou usando força bruta
O composto precisa de respirar, pelo que tive que dar montes de furos


O compostor ficará em cima duma base, a cerca de 30cm do chão.

Seis garrafões cheios de areia formam a base.
Finalmente, instalado ...

e já cheio.
Agora é só esperar que os bichos façam a sua parte.

domingo, 15 de março de 2015

Calcar ervas

Cortando as ervas com a gadanha
Até agora, eu conhecia duas maneiras de lidas com as ervas daninhas : arrancá-las (mondar) ou cortá-las. Estou agora a experimentar calcá-las.

Cama elevada, em preparação
Por exemplo, tenho uma cama invadida completamente por ervas, já grandes. Em vez de arrancá-las ou cortá-las, ponho simplesmente troncos de madeira em cima das ervas, comprimindo-as. Depois, irei tapar tudo com terra, depois com palha, como habitualmente.

Mesmo em terreno plano, já experimentei calcar as ervas. A ideia nem sequer é nova :

Isso deve ter sido feito pelos javalis.
Os javalis usam a própria barriga, mas eu uso um cilindro pesado (um tronco).

Com o tronco às costas
Após a construção dum "atrelado"
Passo com o tronco pelo terreno, fazendo-o rebolar. Forma-se uma camada de ervas entrelaçadas. A maioria acabam por morrer e apodrecem lentamente. O acto de semear fica um pouco mais difícil, pois tenho que rasgar esse entrelaçado de ervas para chegar à terra para semear.

Para semear, tenho que abrir buracos na camada vegetal.

Depois de tanto trabalho ...

um merecido descanso.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Facebook revisitado

Há algum tempo escrevi um pequeno texto sobre o Facebook. Entretanto tenho usado bastante o Facebook, aprendi algumas coisas que não sabia e percebi que algumas das minhas críticas não estavam correctas.
Percebi que, quando partilhamos um link ou uma imagem na nossa cronologia, temos a possibilidade de acrescentar um comentário nosso. Mas mantenho a outra crítica : num pedido de amizade, a interface Facebook não nos oferece a possibilidade de acrescentar um comentário explicativo. Claro que podemos enviar logo a seguir uma mensagem explicativa, mas quase ninguém faz isso porque o Facebook não tem esta facilidade incorporada no pedido de amizade.
Agora que tenho muitos amigos (50 para mim já é muito) descubro novos problemas. Na minha cronologia há demasiadas mensagens. Alguns dos meus amigos publicam várias mensagens por dia, e tudo somado é demasiado para eu seguir. Tive que "calar" alguns deles, dizendo ao facebook que não os quero seguir mais. E tive pena de fazer isso, pois eles até publicam de vez em quando mensagens interessantes, mas inundam-me com muitas outras não tão interessantes.
Depois, coloquei o problema ao contrário. Pergunto-me quais dos meus amigos ainda me seguem e quais já me "calaram". Eu também ponho bastantes coisas na minha cronologia. Ainda por cima, tenho o problema da língua. Tenho amigos que só falam português, outros que só falam inglês, outros que falam romeno e inglês, outros que falam português e inglês. Quando publico uma mensagem em português, os que não percebem português não deveriam recebê-la, e quando coloco uma mensagem em inglês, os que não percebem inglês não deveriam recebê-la. Eu também não gostaria de reber mensagens numa língua que não percebo. E, para além das barreiras linguísticas, há os assuntos. Nem todos estão interessados em permacultura e sustentabilidade, nem todos estão virados para a meditação e a espiritualidade, e assim por diante.
O Facebook tem a possibilidade de criar listas e de partilhar certas mensagens apenas com as pessoas duma lista. As listas pre-definidas (amigos chegados, família, pessoas que moram em Lisboa) não chegam nem de perto nem de longe. Assim, criei uma lista de lusófonos, outra para romeno e outra para inglês. Se as coisas correrem como eu quero, partilharei esta mensagem apenas com amigos lusófonos. Separar por assunto fica para mais tarde. Existem no facebook umas coisas chamadas "listas de interesse", deve ser por aí.
Davam jeito umas operações lógicas entre conjuntos : intersecção, união, diferença. Mas já estou a sonhar muito alto ...