quinta-feira, 30 de abril de 2015

Lixo orgânico

Experimentei "reciclar" os lixos orgânicos de duas maneiras. Nesta mensagem, contei como enterrávamos os lixos directamente. Numa mensagem mais recente, relatei a construção dum compostor. Eis uma comparação entre os dois métodos.

Enterrar o lixo orgânico significa o seguinte. Escolho um sítio para uma futura cama elevada (ou uma cama já existente, mas que pretendo elevar mais). Vou deitando o lixo no sítio, por cima das ervas existentes. Após alguns meses, quando achar que já chega, cubro o sítio com terra e depois com palha, como habitualmente.

Quanto á compostagem, o meu compostor é em plástico e não toca na terra (está suspenso). Isto facilita a extração do composto final, mas por outro lado impede a circulação da fauna entre o solo e o composto. O processo de degradação das matérias orgânicas envolve vários bichos (bactérias, fungos, minhocas, insectos). É uma fauna específica, alguns desses seres não se encontram no solo "normal". Como o meu compostor não comunica com o solo, tenho que assegurar-me que possui a fauna necessária. Quando inaugurei o compostor, enchi-o de matéria orgânica que já tinha estado em contacto com o solo durante alguns meses, por isso já devia trazer bastantes bichos. Para além disso, sempre quando encontro uma minhoca, ponho-a no compostor. Mesmo assim, segundo percebi, as minhocas que fazem a compostagem eficazmente não são aquelas que eu encontro no solo "normal", são uma espécie de minhocas mais finas. Vou pedir a alguém que me traga algumas, ou então comprarei. Em contraste, enterrar o lixo não requer nenhum cuidado com a fauna, uma vez que esse lixo fica em contacto com o solo e os bichos circulam livremente.

Quando fazemos compostagem, tem que haver um equilíbrio entre materia verde e restos de comida, por um lado, e madeira e folhas secas, por outro lado. Os primeiros são ricos em azoto, os segundos não, pelo contrário, a sua decomposição consome azoto. Para além disso, só podemos pôr ramos de arvores até à grossura dum dedo, e cortados em pedaços pequenos. Portanto, os ramos maiores guardo-os para os enterrar nas camas. Em contraste, enterrar o lixo não requer este género de cuidados. Ponho lá (quase) qualquer lixo, uma vez que irá ficar enterrado nos próximos anos.

Mas, precisamente por isso, uma cama feita assim não fica logo produtiva. No início, com os lixos ainda não degradados, o ambiente no interior da cama não é muito propício às plantas. Até poderá ser prejudicial às raízes, pois a fauna que consome os lixos poderá também atacar as raízes. Só passados alguns bons meses, ou mesmo um ano, é que o lixo transformar-se-á em estrume e a cama ficará mais produtiva. Em contraste, o que tiramos do compostor é estrume pronto a ser usado.

Dá algum trabalho retirar o estrume do compostor e levá-lo para onde queremos cultivar as nossas plantas. Em contraste, uma cama já não dá trabalho nenhum depois de feita, fica lá à espera de ser usada.

Notas sobre os lixos "aceitáveis" :

  • Claro que estão excluídos plástico, metal, vidro. 
  • Papel podemos compostar, mas com algum cuidado. O papel das revistas, por exemplo, ou qualquer papel brilhante, não deve ser usado, pois contém muitos aditivos (tintas, resinas). Mesmo a tinta dos jornais pode chegar a ser prejudicial se houver muita quantidade. No compostor, só ponho algum guardanapo esporadicamente. Nas camas podemos enterrar papel normal e cartolinas. 
  • As cascas de citrinos são um problema, pois contêm substâncias anti-sépticas e prejudicam a fauna. Ponho no compostor só depois de usado, por exemplo, na cozinha, ou no banho, juntamente com sais. Nas camas o problema não é tão grave.
  • As cinzas podem ser usadas na compostagem, mas em pouca quantidade e bem espalhadas. As cinzas são muito alcalinas e, em concentração elevada, prejudicam seriamente os seres vivos. Se não souber o que fazer às cinzas, espalhe nos carreiros ou em qualquer sítio onde não quer plantas a crescer. 
  • A carne é de evitar no compostor, pois não se degrada suficientemente rápido. O composto é suposto estar pronto após 4-6 meses, e a carne poderá não ficar degradada neste tempo. O mesmo se aplica às fezes. Depois de 4-6 meses, as fezes ainda não ficam suficientemente degradadas e não queremos manipular composto com fezes (podem ainda conter muitos agentes patogénicos). Tanto a carne como as fezes podem ser enterradas nas camas sem problemas, sobretudo se não intencionamos remexer aquele solo nos próximos dois ou três anos. Não convém, por exemplo, para camas destinadas ao cultivo de batatas ou cebolas ou cenouras.