segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Interstellar

Sempre gostei da ficção científica. Talvez por ser o mais perto possível do milagroso, da magia. E fico triste quando vejo que no cinema o estilo "ficção científica" está frequentemente associado ao estilo "terror". Gosto da ficção científica, mas não gosto da violência.
Está nos cinemas o filme "Interstellar", que achei interessante por várias razões :
1. Não é muito violento (raro hoje em dia encontrar um filme de ficção científica que não o seja).
2. Tem muita ciência à mistura com a acção. Tem mais fórmulas matemáticas do que qualquer outro filme que eu tenha visto. Não que eu tenha compreendido as fórmulas (o objectivo do filme não é este). Se alguém tiver curiosidade em perceber com que se parece um espaço com cinco dimensões, provavelmente não encontrará uma descrição visual mais certa do que neste filme.
3. Mostra, de maneira convincente, como a raça humana pode destruir o ecosistema do planeta Terra a ponto de o tornar não-habitável. Mas aqui tenho uma crítica. No filme, o meio abiente ficou de tal modo destruído que a produção agrícola está cada vez mais fraca, apesar de os humanos usarem tecnologia avançada para a agricultura. A raça humana corre o perigo de morrer a fome, no filme. Esta imagem não é, de todo, realista. O ecosistema terrestre está ameaçado, hoje, não num futuro distante, e o perigo que corremos não é ficarmos sem alimento. O perigo, real, actual, imediato, é que temos alimentos, em abundância e a preços cada vez mais baixos, só que a qualidade desses alimentos está a ficar, ano após ano, pior, a ponto de se tornarem prejudiciais para a saúde. A raça humana está, hoje em dia, e cada vez mais a medida que os anos passam, a envenenar-se a si própria. Uma das causas possíveis do declínio do império romano foi o envenenamento lento com particulas de chumbo, proveniente dos canos de água, fabricados em chumbo. O chumbo provoca uma doença chamada "saturnismo", que induz infertilidade nos homens. Hoje em dia, a história está a repetir-se. As pessoas estão sujeitas a um envenenamento lento, crónico, com pesticidas, herbicidas, adubos e outros produtos químicos usados na agricultura. Não provocam infertilidade, mas cancro.
4. Deixei para o fim o aspecto que mais gostei no filme. Tem a ver com anjos, ou seres de luz, ou seres superiores, ou extraterrestres, dependendo da óptica de cada pessoa. Há quem acredite que o ser humano é o exponente máximo da sabedoria, é o que o Universo de melhor produziu até agora, que não há seres que o superem. Nesta crença, os humanos estão "por conta própria", não faz sentido esperarem ou procurarem ajuda divina, pois não há nada acima da inteligência humana. Noutro extremo encontra-se a crença que o ser humano é totalmente insignificante face à sabedoria e ao poder de outros seres. Segundo a óptica de cada pessoa, esses seres superiores podem chamar-se anjos, mestres ascensos, Jesus, Buda, até extraterrestres, ou simplesmente seres de luz. Gostei de ver, no filme, a ideia que essas duas crenças extremas afinal não são tão contraditórias como parecem.

2015.03 : Entretanto encontrei este artigo. Afinal, parece que os pesticidas podem provocar infertilidade nos homens.